sábado, 27 de setembro de 2008

O declínio de um Império

"O Rei está morto. Viva o Rei".

A expressão que eu escrevi acima mostra a mentalidade dos governos monárquicos, onde mal se tem tempo em lamentar a morte de um líder, e já se tem a ascensão do novo ao poder, do príncipe por assim dizer. Rei morto, rei posto, certo?

Estamos vivendo uma fase dessas, mas não falamos de um Rei, e sim de um Império. O Império dos Estados Unidos está decadente.

Eu tenho uma teoria (daquelas de botequim mesmo, nada cientificamente comprovado, mas quem sabe um dia...) sobre a ascensão e queda dos Impérios que dominaram o mundo: quanto maior a tecnologia e criatividade (principalmente na área de comunicações, pois elas fazem o mundo "encolher") menor a duração de um Império. Exemplos?

Império Romano (incluindo nesse termo o do Ocidente e o do Oriente): de 753 a.C. até 1453 d. C. - o surgimento é do Ocidente e a queda é do Oriente. Temos 21 séculos de duração de um único Império.

Império Britânico: durante a queda do Império Romano do Oriente, a Europa Continental estava entregue ao feudalismo, motivo pelo qual a Grã-Bretanha, que nesta época já tinha até sua Carta Magna (desde 1215) se destacou. Poucos países se lançavam em aventuras extra-marinas, como Portugal, Espanha e Holanda. Os holandeses eram mais empreendedores, portugueses e espanhóis se dedicavam ao extrativismo e plantation, mas não desenvolviam novas tecnologias. Nesse quadro, a Inglaterra se lança ao mar, criando uma das maiores marinhas do mundo e desenvolvendo cada vez mais tecnologias. Teve problemas com a Invencível Armada de Espanha, chegou a perder por alguns anos sua hegemonia em virtude de Napoleão, mas comandou o mundo de 1485 (início do reinado de Henrique VII) até o início da Segunda Guerra Mundial (1939). Temos então quase 5 séculos de Império Britânico, o que não é nada comparado aos 21 séculos romanos.

Império Norte-Americano: com a Primeira Guerra Mundial, as principais potências européias ficaram muito enfraquecidas, e conseguiram escapar da completa destruição graças à ajuda dos Estados Unidos. Os EUA saíram vitoriosos dessa guerra pois ela não aconteceu em seu território, demandando destes apenas o poderio militar e econômico. Com a Segunda Guerra Mundial, seu papel foi muito mais importante, porque o período entre guerras via a reconstrução da Europa destruída, e o crescimento acelerado da Alemanha nazista e dos EUA. Ao estourar a Segunda Guerra, ficou claro que os EUA seriam os "salvadores" do mundo (e essa foi a única vez em que eles foram heróis, porque foi também a última em que se sabia quem era o vilão). Desde então eles vêm dominando o mundo. De 1939 até hoje não temos nem um século, e o império americano já demonstra claros sinais de cansaço.

A Crise que assola os EUA hoje nos mostram claramente o que a tecnologia faz com um Império e seus dominados. Bolsas de Valores seriam impensáveis no Império Romano, não existia maneira de 500 pessoas serem "donas" de um mesmo estabelecimento comercial através da compra e venda de pedaços de papel que atestavam isso. Menos ainda seria possível que uma pessoa "vendesse" sua casa por um valor acima do que ela valia e recomprá-la parceladamente de uma instituição financeira. Pra começo de conversa, seria impossível um romano vender sua casa, pois era nela que residiam seus deuses domésticos, seus protetores. Quem discordar disso e achar que Roma era apenas Júpiter, Marte e companhia, pode ler "A Cidade Antiga" de Fustel de Coulanges.

Os romanos eram detentores de grandes tecnologias, principalmente na área da engenharia, tanto que ainda existem pela Europa estradas e aquedutos em utilização até hoje que foram construídas por eles. Porém, não lhes interessava ensinar essa tecnologia para os povos dominados.

O império britânico foi o palco da Primeira Revolução Industrial, que trouxe a tecnologia do vapor, e também não lhes interessava apresentar isso para o mundo.

O império norte americano tem seu Vale do Silício, maior centro de produção de microchips do mundo, e dispensa comentários na criação de tecnologias.

Porém, o que vemos? Os romanos viviam da guerra, da expansão territorial, e não conseguiam se comunicar com velocidade com os extremos de seu império. Inspiravam medo, e depois respeito, pois não forçavam os povos conquistados a adotar sua cultura, de maneira que aos conquistados parecia cômodo ter segurança por pagar impostos ao império. Vejam bem, os povos conquistados estavam acomodados.

Os britânicos também se utilizavam da guerra, porém instituiam sua forma de governo e sobrepunham sua cultura à do conquistado. Isso gerava revoltas e novas guerras. Porém seus navios eram rápidos e suas tropas chegavam rapidamente a qualquer parte do seu território.

Os americanos aprenderam a dominar com os ingleses, e também impõem sua cultura aos povos dominados. E as telecomunicações fazem com que a resposta às revoltas e rebeliões sejam quase instântaneas.

O que vemos de diferente entre os três? A tecnologia que cada um tinha. Não que a causa da queda de cada um tenha sido a tecnologia que tinha, mas sim a que os dominados também tinham. O ser humano é criativo por natureza, quando um cria e o outro fica sabendo, se o primeiro não ensinar como se faz, o outro vai estudar até criar igual... Aí já viu né?

Pra mim essa crise financeira dos EUA é o auge da criatividade em termos de mercado financeiro. Você vende a sua casa pra uma instituição, ela te paga uma grana à vista, e você devolve parcelado com uma pequena taxa de juros. Depois você, instituição, vende essas dívidas para uma outra instituição como se fosse um ativo recebível, e ela compra, ainda mais caro e joga esses papéis nas bolsas de valores a peso de ouro! 

Alguém além de mim viu que na verdade não existe dinheiro aí? Tudo o que se vendeu foram promessas de pagamento? Na hora de pagar, a pessoa investiu aquele dinheiro que a financeira deu pra ela em troca da casa aonde? Na bolsa de valores! Comprando que papéis? Os da outra instituição financeira que vendeu a dívida da primeira como um ativo recebível! Ou seja, você comprou sua própria dívida, mas por um preço maior do que você deve!

Na hora de cobrar, a segunda financeira vai em cima da primeira, que não tem dinheiro e cobra de você, que não tem dinheiro porque comprou papéis vazios, e, por não pagar, perde sua casa! A financeira põe sua casa a leilão, mas tá todo mundo quebrado pelo mesmo motivo, sua casa é vendida baratíssima, a financeira tem prejuízo e quebra! Quebra a primeira financeira, quebra a segunda, quebra a bolsa de valores...

Enfim, o poderio econômico dos EUA reflete no mundo inteiro, e com essa crise, o crescimento deles vai ser muito menor pelos próximos anos. Alguns especialistas dizem que mesmo com o pacote de ajuda às financeiras que o governo americano disse que vai dar, a recuperação americana vai demorar pelo menos uma década. 

Pra um Império que tem só 70 anos de história, perder uma década é muita coisa. Quem for pouco afetado por essa crise e souber crescer sem o dinheiro norte-americano, pode subir ao topo como novo líder mundial. Alguém aí falou na China?

Um comentário:

Anônimo disse...

Isso foi apenas um post ou parte da sua monografia? Meu Deus! Tá perfeito, enfim... EUA podia "cair" mas ele é praticamente a "base" do mundo, no mínimo a porta econômica que controla todas passagens de capital no mundo... Triste triste...
Mas meu caro amigo Romano. Não se preocupe com essas questões, nenhuma delas chegará aos pés do seu grande e maravilhoso IMPÉRIO ( afinal... antigamente é que os caras sabiam fazer direito... Enfim: Não se fazem IMPÉRIOS como antigamente! haahaha ;x )
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