sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vontade de escrever, mas não sei o que...

Ímpeto criativo veio, mas não sei porque. Nem sei sobre o que escrever. Só quero escrever. Ponto.

De vez em quando me acontece isso, uma vontade de preencher uma folha de papel, desenvolver alguma idéia. Agora não tem idéia, só a vontade de encher a folha de papel. Estranho.

To escrevendo a continuação do "Conto sem nome", é a parte do bárbaro, e não vou contar mais nada do que isso. A próxima provavelmente vai ser a do bardo arqueiro elfo, a penúltima a do anão clérigo, e a última, que já está pronta porque foi a primeira a ser escrita, a do guerreiro.

Além disso, estou tentando desenvolver um novo blog com o Will, o Luciano e o Pedro. Tenho que terminar ainda o "Lenda Urbana". E é engraçado, porque apesar de estar trabalhando em tantas coisas, não veio inspiração pra escrever algo pra eles. Só vontade de escrever, pura e simples.

Pior que to com sono, o colchão inflável em que tenho dormido na sala tá me chamando, os olhos estão pesados, mas não consigo parar de escrever, mesmo sem ter assunto.

Bom, não vou resistir mais ao sono. Engraçado. A vontade que veio, da mesma forma foi embora.

De qualquer maneira, esperem novidades em breve. Acho que posto a continuação do "Conto sem nome" domingo, ou se não, semana que vem. Além disso, como eu disse, um novo blog vem aí, e por enquanto é o que posso dizer. Só adianto que não será um blog como os que já desenvolvi. Apesar de ser praticamente uma brincadeira entre amigos, temos planos um pouco mais ambiciosos. Não será exclusivamente de contos, nem de notícias ou de comentários sobre a vida, mas um sonho antigo nosso de adolescência e que agora, mais maduros, pode ser que dê certo.

Enfim, abraços pra todos, e obrigado por aturar mais essa loucura minha!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um Conto Sem Nome

J. R. R. Tolkien escreveu o Hobbit, vendeu alguns milhares e viveu razoavelmente bem. Foi-lhe encomendado então O Senhor dos Anéis, que vende horrores até hoje (cultura inútil: é o segundo livro mais vendido do mundo, atrás apenas da Bíblia). E mesmo com esse histórico, morreu deixando "Contos Inacabados", que foram editados por seu filho Christopher Tolkien. Pergunto então, pacientes leitores, que aguardam dois anos por um post novo: se Tolkien, que era um catedrático de Oxford, até hoje aclamado como um dos maiores autores de língua inglesa, pôde deixar material sem finalizar (falta de profissionalismo hein Tolkien?!), porque eu não posso postar aqui um conto que ainda não tem nome?

Explico: na verdade são alguns contos, cada um com seu nome. Juntos eles contam a história de um grupo de aventureiros medievais clássico. O conjunto da obra ainda não tem nome. E a diferença desses contos para uma aventura medieval normal é que cada conto mostra um pouco do psicológico de cada um dos membros, com seus medos e angústias, deixando sempre um gancho para o próximo conto. Pra quem me conhece, foi óbvia a escolha do primeiro personagem: o mago. Então, com vocês,




GRADUAÇÃO (OU “A INSEGURANÇA”)


Era um aprendiz de mago. Estudou durante 10 longos anos na Escola de Magia da Capital, desde que tinha 10 anos de idade e sua família o entregou à Escola para ser treinado. Agora estava se graduando. Em dois dias teria de passar pelos testes finais e finalmente seria um mago graduado.


Durante alguns anos de estudo, pensava que essa seria a época mais feliz de sua vida, pois receberia o título de mago e poderia ir embora da Escola. Imaginava que ficaria feliz pois o ritmo de estudos era muito grande, ainda mais com os serviços que os aprendizes eram obrigados a prestar para a população, para treinar a parte prática da magia. Esse trabalho era exaustivo, extremamente cansativo. Por vezes voltava para a torre de dormitórios tarde da noite, após terminar os trabalhos na Capital, e estudava ainda durante longas horas na torre da biblioteca para as provas a que seria submetido no dia seguinte.


Mas não sentia alegria. Sentia medo, se sentia inseguro. Por dez anos aquelas torres de magia foram sua casa. Aquelas torres de arquitetura antiga, com tijolinhos vermelhos expostos, lhe deram segurança. Sua vida se acomodou ali. Tinha uma cama onde dormir, tinha a certeza de um prato de comida, tinha colegas de turma que se tornaram amigos, tinha professores que se tornaram amigos. E agora, estava na iminência da partida, e sua vida teria que recomeçar.


As expectativas de sua família acerca do seu futuro só pioravam esse sentimento de insegurança. Tinha medo de não corresponder, e por isso se tornar uma vergonha para toda a família. Queria superar seus pais e tios, para lhes dar uma melhor condição de vida. Seu sonho era ser o arrimo da família, mas com 20 anos não tinha patrimônio, tinha apenas conhecimento acumulado ao longe de dez anos de estudo, alguns grimórios, roupas e poucas moedas de ouro que conseguiu economizar com os serviços que prestou como parte do curso.


Além disso, estava inseguro quanto à sua aprovação nos testes finais. Sem a aprovação, não seria um mago, não poderia exercer a profissão para a qual estudou durante dez anos. Seria um inútil para a sociedade, e principalmente para sua família. Tudo isso passava pela sua cabeça enquanto tentava dormir e se acalmar, mas a única coisa que não conseguia agora era se sentir calmo o suficiente para que pudesse se entregar ao mundo dos sonhos. Na verdade, tinha até medo de dormir e ter sonhos premonitórios com sua reprovação, que terminariam de desestabiliza-lo emocionalmente, prejudicando ainda mais o seu desempenho nos testes.


O sono chegou apenas duas horas antes do amanhecer, e aos primeiros raios de sol despertou ainda cansado, mas precisava se levantar. O último dia de aula começaria em algumas horas, e ele não podia faltar para não perder as dicas que o Professor daria, caso o teste para o qual seria sorteado fosse um de combate. Era um excelente aprendiz de magias de combate e destruição. O medo que lhe era inerente não deixava que fosse arrogante a ponto de esquecer o poder do adversário, e sempre entrava em combate respeitando a força do oponente, aproveitando as brechas que esse lhe mostrasse para tentar terminar a batalha com uma magia poderosa que era sua favorita: a bola de fogo.


O Professor era um grande amigo. Teve aula com ele em quatro dos dez anos da Escola, e desde o começo o Professor viu o seu talento para as magias de combate, ajudando-o a desenvolver ainda mais essas habilidades. Assim, a única alegria que tinha no último dia de aula era que este seria passado com seu professor favorito.


O dia transcorreu agradável, com a aula sempre muito bem-humorada do Professor e o clima mais leve que este conseguia trazer para a Escola. Em momento algum o Professor falou sobre os testes finais, o que lhe deixou mais aliviado, pois lhe deu a oportunidade de esquece-los por algum tempo, deixando seu sangue correr normalmente por suas veias e sua respiração voltar à velocidade normal. No fim da tarde, com o término da aula, saiu para um passeio pelo campus.


As torres de tijolinhos expostos já lhe davam saudade, só em pensar de sair de lá. As escadarias de algumas delas foram locais de encontros prazerosos com os amigos, onde conversas intermináveis sobre os mais improváveis assuntos corriam tarde adentro. Nestas escadarias costumava estudar também, sentado em seus degraus, com os grimórios no colo, sempre auxiliado pela melhor aluna de sua turma, que veio a se tornar uma de suas melhores amigas. O talento dela para a magia era inegável, sendo excelente em todas as suas áreas. Conjurava animais com a mesma facilidade que conversava com os mortos ou explodia paredes com bolas de fogo. Era admirada por todos os professores, amada pela maioria dos alunos, e invejada pelos demais. E ele tinha a sorte de tê-la como amiga, pois era uma companhia agradabilíssima. Em alguns momentos chegava a pensar se ela realmente existia.


Era incrível como lembrar do passado fazia o tempo passar mais rápido, talvez como um sinal para que a pessoa se lembrasse de viver o presente. O que para ele foi apenas um curto momento em que se divertia com boas lembranças, se mostrou o equivalente a uma hora de areia na ampulheta do dia. Já estava escuro, e a noite jogava suas primeiras sombras no campus. Precisava ir para a biblioteca relembrar alguns trechos das matérias para o teste final.


Enquanto caminhava para a torre da biblioteca, viu a movimentação dos novos alunos, que terminavam o primeiro ano de estudos. O desespero e nervosismo eram claros nos seus rostos, pois as provas finais do primeiro ano iriam começar amanhã também. Viu-se no rosto desses meninos, pois já passara por isso, já havia sido um aluno de primeiro ano. Logo eles veriam que o primeiro ano era simples, que o pior ainda estava por vir, e que o melhor que tinham a fazer era aproveitar as amizades e o tempo que estavam passando ali dentro, pois este um dia acabaria.


Na biblioteca cumprimentou o Bedel, que há 50 anos trabalhava na Escola. Ele viu passarem por lá os maiores magos do mundo, e hoje era seu amigo. Nunca havia deixado de lado sua humildade. Foi convidado por diversas vezes para integrar o quadro de professores da Escola, mas o seu prazer era auxiliar os alunos, e diariamente cumprimenta-los na porta da torre de aulas.


- Não precisa ficar nervoso. Você é capaz de tudo. Amanhã será seu grande dia rapaz, e logo você se lembrará desse nervosismo com um sorriso no rosto, aquele sorriso que só quem já superou desafios pode dar. – disse o Bedel.

- O que? – perguntou, distraído.

- É amanhã não é? O seu teste final! – disse empolgado o Bedel.

- Ah sim, é amanhã. Minhas roupas estão caindo. Perdi peso de tanto nervosismo e horas de estudo seguidas. – respondeu.

- Não precisa disso. Você é de longe um dos mais bem preparados que já vi aqui. Lógico, não perca o medo, não se torne arrogante achando que é insuperável e que por isso nada pode lhe atrapalhar. Mas não deixe que seus medos diminuam seus sonhos, pois eles são a sua medida. Você é do tamanho dos seus sonhos. – retrucou com sabedoria o Bedel.

- Obrigado pelas palavras. Agora se me permite, preciso dar uma última recapitulada em algumas matérias, nem que o efeito deste estudo de última hora seja apenas psicológico.

- Claro, pode ir. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar e sabe que pode contar comigo. – respondeu o Bedel com um sorriso de companheirismo no rosto.


Quando monstros que destruíram a antiga Capital tentaram invadir a dimensão paralela da Escola, o Bedel foi quem defendeu os alunos, e os coordenou naquela noite que ficou conhecida como “O Verdadeiro Teste Final”. O Bedel reuniu os alunos do décimo ano e junto com eles traçou uma estratégia de combate que se mostrou mais eficiente que as defesas da Escola. Depois disso, o Bedel recebeu todo ano convites para ser o novo professor de Magias de Combate, mas negava tais pedidos com educação ano após ano.


Passou as primeiras horas da noite estudando na biblioteca, e quando esta iria fechar, foi para seu quarto, na torre de dormitórios. Lá continuou estudando até pegar no sono. Combate, necromancia, conjuração, todas as matérias. Acordou com o sol nascendo e a luz entrando pela janela.


Tomou um banho rápido por causa do calor e para ajudar a acordar, colocou sua melhor roupa, e seguiu para a torre de aulas práticas, onde realizaria seu Teste Final.


“Apresentem-se Alunos do Décimo Ano. Apresentem-se perante a banca de examinadores. Apresentem-se perante a Deusa da Magia, e a reverenciem. Hoje sairão daqui Magos, ou retornarão para a Escola para mais um ano de aulas. Acreditamos que estão todos muito bem preparados, mas não podemos deixar de lhes aplicar o Teste Final. Aquele que nos mostrará quais de vocês estão preparados para a vida sob pressão que é a de um Mago. Vocês não tiveram tempo durante esses dez anos para desenvolver seu físico, e assim são frágeis de saúde. Na linha de frente de um combate, não são tão úteis. Entretanto, aprenderam conosco a pensar e a dominar forças da natureza, e isso é ser mais forte do que qualquer homem de armas jamais sonhou. Nos mostrem agora o valor de dez anos de estudos ininterruptos. Nos mostrem agora o real valor de um mago diante do perigo”.


Com esse discurso do Reitor, iniciaram-se os Testes Finais. Cada professor levava um aluno para uma sala especialmente preparada. E ele aguardava para ver qual professor o levaria. Quando viu o professor de necromancia vindo em sua direção, tremeu. Era um excelente aluno de necromancia, mas temia o orgulho que tal professor tinha em ser o mais temido da Escola.


- Venha comigo. Quero ver do que é capaz em seu Teste Final. – disse o professor de necromancia, lhe indicando o caminho de uma sala.


O caminho da sala parecia o mais longo que já havia andado em sua vida. Suas pernas tremiam, suas mãos estavam molhadas de suor, e ele as esfregava constantemente no manto para secar. Mas era o mesmo que enxugar gelo. Tão logo ele as esfregava, elas novamente estavam suadas.


- Respire fundo rapaz. Guardei para você alguns de meus mais preciosos filhos. Entre na sala, e sobreviva. – disse o professor com um sorriso no rosto.


Entrou, e o professor bateu a pesada porta atrás dele. Estava escuro, não conseguia enxergar nada dentro da sala. Sabia que ela estava cheia de olhos arcanos que transmitiam a uma bola de cristal imagens do que ele estava fazendo lá dentro. Lançou uma magia de luz, e um globo brilhante saiu de suas mãos, indo repousar no centro da sala.


Enquanto o globo se deslocava até o centro da sala, pôde ver quem eram os filhos do professor. Mortos-vivos. Espalhados por toda a sala. Zumbis, carne putrefata presa em ossos poeirentos. Suas armas eram garras e dentes.


Mas não eram aqueles zumbis que ele costumava criar como parte das aulas de necromancia. As garras e dentes desses eram maiores, alteradas. Sabia que havia um limite para a dificuldade do Teste Final, e certamente o professor de necromancia chegou ao limite com seus zumbis.


Inicialmente a luz do globo os assustou, mas logo eles estavam acostumados, e começaram a se movimentar em sua direção. Medo. Tudo passava por sua cabeça. Sabia que não morreria ali dentro, mas não esperava um teste tão difícil, que lhe exigisse tanto para a Graduação. Sabia que poderia fazer o teste de novo depois de um ano, mas não queria ser uma vergonha para sua família, um fardo por mais um ano sustentado por seus parentes.


Tentou evitar levar o pensamento até a família para se concentrar no teste. Alguns zumbis já estavam a três metros dele, e precisava se proteger.


Lançou magias de proteção inicialmente, para defende-lo dos ataques. Mas logo viu que seria inútil, pois se o agarrassem, um dia as magias acabariam. E, como um dos melhores aprendizes do Professor de magia de combate, resolveu atacar.


Eram ao todo 10 zumbis dentro da sala. Três já estavam muito próximos, e ele movimentou o ar, arremessando-os na parede. O barulho de ossos velhos partindo foi nojento, mas ao menos os zumbis não conseguiram mais se levantar.


Sete zumbis, e ele tinha mais duas magias memorizadas para lançar. Não conseguiria mais que isso sem cair desmaiado no chão. Precisava pensar. Mas não tinha tempo.


Uma das magias era sua favorita: bola de fogo. Conseguiria acabar com todos os zumbis ao mesmo tempo se acertasse, pois eles eram sensíveis a alta temperatura. A carne podre exalava gases que ajudavam a incendiá-los mais rapidamente.


O único problema era que a outra magia que ele havia memorizado era a flecha de luz, que atingiria somente um zumbi, e nem era certeza que isso o derrotaria.


Quatro zumbis avançavam em sua direção, enquanto outros três ficavam próximos ao globo de luz, tentando criar sombras na sala para atrapalhar a visão. E conseguiam fazer isso com maestria. As sombras da luz bruxuleante do globo davam um ar fantasmagórico à sala. E faziam com que o movimento dos zumbis parecesse ainda mais rápido. Era como se eles andassem sem movimentar os pés, simplesmente aparecendo cada vez mais perto.


Chegaram à distância limite. Se conjurasse uma bola de fogo a uma distância menor que aquela, seria também atingido pela explosão. Sem alternativa, lançou a magia.


A bola de energia explodiu em chamas no peito de um zumbi, que voou em pedaços. Braços, pernas, cabeças em chamas voando pela sala. Os outros três zumbis do globo de luz viram o estrago, e, distraidamente, esbarraram no globo.


O contato com a energia positiva fritou as mãos dos zumbis, e nessa hora ele se lembrou dos ensinamentos do Professor: energia positiva serve para iluminar, mas também para destruir seres de energia negativa, e, nada mais negativo que zumbis e seres criados por magias necromânticas, que privam nossos semelhantes do descanso eterno.


A flecha de luz era o que ele precisava para dar fim ao Teste Final. Se tornaria um Mago afinal. Luz, com luz, geraria uma explosão incontrolável, matando de uma vez os três zumbis faltantes. O choque de magias poderia feri-lo, mas nada que uma magia de cura de um clérigo não fosse suficiente, ele pensava.


Conjurou. A flecha de luz partiu. A luz que emanava dela criava mais sombras na sala. O caminho percorrido não era longo, mas o tempo parecia uma eternidade. A eternidade que o separava do título de Mago, que o separava da alegria da família. Que o tirava de uma vez por todas de dentro da Escola de Magia da Capital.


A flecha se chocou com o globo. A luz cresceu rapidamente, piscando, seguida de um estrondo ensurdecedor que ecoou pela sala. Tentou se manter de pé, apesar da pressão do ar deslocado pelo estrondo. Era como se sentisse a luz atravessando seu corpo, a energia positiva. Isso o deixava feliz, pois via que era uma pessoa boa, uma vez que se fosse maligno, agora estaria também sendo queimado pela energia da magia em choque.


O estrondo passou. A luz apagou. Novamente a sala estava às escuras. Não ouvia o som de zumbis arrastando os pés. O silêncio o estava deixando agoniado. Até que ouviu o som de uma chave no trinco. Atrás de si veio a luz de fora, e a sombra do professor de necromancia:


- Muito bom. Utilizou bem as magias que são seu ponto forte, e demonstrou excelente carga de conhecimentos acumulados ao longo da faculdade, além de integração entre matérias diferentes. Está de parabéns, e eu, orgulhoso por ser aquele que lhe pôs a prova.


Três dias depois ainda não acreditava que estava graduado. Finalmente era um Mago, após dez longos anos. E agora faltava apenas uma semana para que tivesse que recolher seus poucos bens do dormitório para ir embora.


Estava desempregado, como a grande maioria de seus colegas. Alguns poucos, de família abastada, já ingressariam no Conselho de Sábios das Cidades ou Vilas onde moravam. Outros já assumiriam os negócios dos pais, que eram renomados magos. E, sua amiga que era a melhor aluna, foi convidada para ingressar na Escola de Conselheiros Reais, a instituição de ensino mais concorrida do mundo, pois aqueles magos que lá continuavam seus estudos eram considerados os maiores sábios do mundo.


Não sabia agora o que fazer. Precisaria procurar emprego em alguma torre de magia como mago recém-formado, tendo um currículo já razoável para exercer qualquer função. Mas sabia como isso era difícil, como precisaria de indicação de algum mago famoso pra conseguir trabalhar em uma torre renomada.


Enquanto arrumava suas coisas, bateram na porta de seu quarto.


- Pode entrar, está destrancada. – disse.


Ficou confuso ao ver entrar pela porta o Professor.


- Professor, o que faz aqui? Não deveria estar aplicando os testes finais nos outros alunos? – perguntou.

- Não, pedi licença hoje por motivos pessoais. Preciso ajudar um amigo que está em apuros. – respondeu calmamente o Professor.

- Está falando sério Professor?! Precisa de ajuda? Vamos logo ajudar esse seu amigo! – respondeu ansioso.

- Meu amigo está aqui, na minha frente. E os apuros que passa são frutos de sua imaginação, que está aumentando o tamanho de seus problemas. Conversei com o Bedel e soube que você tem medo de seu futuro, de ficar desempregado. Realmente acha que um mago que passou tão habilmente pelo Teste Final pode ficar desempregado? Um mago de combate tão valoroso quanto você encontra trabalho em qualquer exército! Você poderia facilmente liderar a tropa de magos do Exército Real!

- Não sei Professor, não me sinto tão preparado para a vida lá fora. Acomodei-me aqui dentro. Acostumei-me à vida acadêmica e à proteção que as paredes de tijolinhos expostos das torres da Escola nos transmite. – assumiu para o Professor.

- Deixe de bobagem. Eu lhe monitorei enquanto realizava os trabalhos obrigatórios na Capital. Você foi elogiado por todos os magos com quem trabalhou, pela mente prática e pela capacidade de lançar mais magias do que estudantes do mesmo ano. Ainda assim acha que não conseguirá emprego e viver lá fora?

- Acredito que conseguirei alcançar meus sonhos Professor. Quero ser professor da Escola também, mas sei que para isso preciso de um conhecimento prático maior do que o que tenho hoje. Preciso viver lá fora, acumular não apenas conhecimento, mas também sabedoria. Quero chegar onde hoje o senhor está Professor. Quero a cadeira de Magia de Combate da Escola.

- Para isso o ideal é viver a mesma vida que eu. Seja um aventureiro, viaje pelo mundo fazendo o bem. Acumule riquezas, faça amizades. Volte para a Escola daqui alguns anos, e terei prazer em ser substituído por você.

- Professor, o senhor fala como se fosse fácil! Como eu poderia ser um aventureiro!? Não conheço ninguém fora dos muros da Escola além de magos! Nunca conseguiria entrar em um grupo de aventureiros viajantes!

- Esse é um dos motivos pelo qual lhe disse que precisa fazer amizades, para expandir seus contatos, se tornar conhecido. E não é porque conhece apenas magos que não conseguiria um grupo de aventureiros para acompanhar. Esquece que eu mesmo já fui um aventureiro? Ande, arrume suas coisas. Você parte em viagem com um grupo de aventureiros daqui dois dias. Um de meus amigos de viagens da época em que tinha a sua idade hoje trabalha recrutando aventureiros iniciantes para realizar pequenos trabalhos nos vilarejos. Aventuras como exterminar grupos de monstros que atacam regularmente vilas e vilarejos, problemas que são grandes para os moradores, mas que são pequenos demais para que se envie o exército até lá. Um início excelente, e precisavam de um mago recém-formado para completar um grupo que parte depois de amanhã. Meu amigo me pediu para indicar o melhor aluno que tivéssemos, e lógico que esse é você. Junto com você partirão em viagem um guerreiro um pouco mais experiente, que morava no Vilarejo e já foi mercenário, um clérigo anão, um bardo elfo arqueiro e um bárbaro das Montanhas. Parabéns, agora está empregado.


Lágrimas tomaram seus olhos, ele não acreditava no que o Professor havia feito por ele. Abraçou longamente o Professor, que em dez anos de estudos se tornou seu melhor amigo, mais amigo até do que os magos de sua idade. E agora graças a ele estava empregado, tinha um mundo de aventuras pela frente. Já conseguia imaginar as bibliotecas que encontraria, as pessoas que conheceria, os monstros que enfrentaria e o poder que acumularia nesses anos de aventura que se descortinavam a sua frente.


E tudo isso começaria em menos de dois dias...

domingo, 3 de outubro de 2010

De um celular...

O post de hj vai ser curto. To aproveitando o wifi de casa no celular, então nem rola de escrever mt.↲ ↲Não vou falar sobre política hj pra não criar polêmica, apesar de acreditar q tds meus amigos estejam doidos pra gritar "chupa dilma"!↲Enfim, esse post é só pra avisar q essa semana "Lenda Urbana" vai ter continuação, e vou publicar o primeiro capítulo do conto novo, q ainda não tem nome, e tb ainda não tem sequência... Isso q dá começar uma história pelo fim... Bom, podem aguardar essas novidades então!

domingo, 19 de setembro de 2010

Estamos de volta...

Depois de quase dois anos sem escrever, resolvi aparecer. Postei minha parte do conto no "Contos Blogados", to tentando continuar o "Lenda Urbana" e também um outro conto ainda inédito... O conto inédito tem começo e fim, mas falta o meio. Enfim, coisas que acontecem.

Nunca falei sobre música nos meus blogs. Sei lá, música é um daqueles assuntos que não podem ser discutidos, porque opinião é igual c...u, cada um tem o seu, e se você gosta de dar a sua, eu não gosto de dar o meu... Respeito o gosto musical de todas as pessoas, mesmo daquelas que gostam de ouvir funk no dia a dia, como trilha sonora da vida.

Pois bem, dessa vez vou falar de música. Ninguém entende muito porque eu gosto de música country. Bom, vou explicar.

Tudo o que eu gosto na vida quero de saber de onde surgiu. Com o Senhor dos Anéis fui atrás da inspiração do Tolkien, e descobri a mitologia nórdica, com algumas histórias engraçadas e mais leves do que a mitologia grega. Com o strogonoff, descobri o uso de aguardente como tempero de carne (o strogonoff original era um monte de carne picada conservada em barris cheios de vodka e sal grosso para levar na guerra). Com o rock, descobri o blues e o country.

Ahn, perguntam os mais desavisados. Sim, o rock surgiu como uma mistura de blues e country. Os primeiros roqueiros da história eram cantores de country que aceleraram suas músicas. Um exemplo? Johnny Cash.

Johnny Cash cantava country, mas se aventurou pelo blues também, e nessas aventuras cantou músicas que eram os primórdios do rock.

Mas o country não é só isso, ele tem inúmeras vertentes, assim como qualquer ritmo musical, até o funk (funk melódico, charme, funk pancadão de bandido "tipo colômbia"). Uma dessas vertentes, que é uma das que eu mais gosto, é o bluegrass, que é o country puro, como era feito pelos cowboys originais no wild west. Aliás, cowboys esses que usavam o banjo e acordeon, instrumentos típicos irlandeses, motivo pelo qual o rock folk irlandês é tão parecido com um country punk... Viagem né?!

Bom, pra quem quiser curtir um country mais sério, segue uma música de um dos melhores CDs de country que eu tive o prazer de encontrar e baixar na net: Johnny Cash e Willie Nelson (esse não poderia ser mais nada se não fosse cantor country, até o nome combina) no VH1 Storytellers.


Abaixo, um vídeo do CD "Willie Nelson and Friends - Live and Kicking":


Enfim, espero que vocês gostem, mas se não gostarem, eu respeito! :P

sábado, 25 de outubro de 2008

Lenda Urbana - Um pouco de história

Saímos da Torre do Banespa. A menina loira se apresentou como Bruna. Talvez pelo excelente papo e por ser xará de duas amigas que gosto muito, logo estava conversando com ela como se a conhecesse há mais tempo.

"Antes de tudo, me conta porque que nós precisamos lutar? Porque aqueles que têm os guarda-chuvas quadriculados de azul escuro e amarelo-esverdeado lutam entre si?"

"Não é bem assim Théo. Por exemplo, nós dois não precisamos lutar, estamos do mesmo lado. Nós defendemos a mesma causa. Nós defendemos os mendigos."

Não sabia o que perguntar diante dessa resposta. Mas precisava continuar o assunto.

"Defendemos os mendigos do que? Porque contra o baiano eu lutei e contra você não preciso?"

"Defendemos os mendigos dos vilões. O baiano era um que defendia os vilões. Aliás, meus parabéns. Normalmente os novos portadores são treinados antes do primeiro combate, e você venceu o seu primeiro sem nenhum treinamento, e contra um adversário digno de nota. O baiano já havia retirado de nossas fileiras alguns valorosos portadores."

A história cada vez se complicava mais, e eu torcia para entender alguma coisa.

"Quem são os vilões Bruna?! Como você entrou nessa vida? Como eu me tornei um desses portadores?!"

"Bom, não posso lhe responder isso. Thamis disse que seria complicado falar com você sobre isso, e ele preferia lhe contar a história toda. Bom, chegamos ao nosso destino."

Não havia percebido, mas a conversa com Bruna me tirou toda a atenção do itinerário. Pegamos um metrô e um ônibus. E desembarcamos diante daquele lugar que eu vejo todos os dias de dentro do ônibus quando vou para a faculdade: o Castelinho da Rua Apa.

Local de lendas urbanas paulistanas, fantasmas e cenário de um crime. Uma família riquíssima, mãe e dois filhos, no dia 12 de maio de 1937, foram encontrados mortos a tiros na casa da família: o Castelinho. Nunca encontraram os culpados, e até hoje o Castelinho está abandonado. Ou não, pelo que eu podia ver agora.

Havia movimento dentro do Castelinho, vida. Pessoas circulando lá dentro, e cartazes de peças teatrais. Provavelmente algum grupo de vanguarda, ou góticos.

"Vamos, Thamis está lhe esperando."

Entramos no Castelinho. Nunca pensei que teria coragem de fazer isso, mas eu precisava de respostas. Sei lá, não acredito em fantasmas, mas é melhor não brincar com essas coisas. 

Subimos um lance de escadas quebradas, empoeiradas e chegamos a um quarto. No centro do quarto, logo reconheci a figura. Um mulato alto, magro, de cabelo black power amassado de um lado, limpo, vestido com roupas velhas, sentava-se como que meditando sobre um tapete persa imundo. Era ele, Thamis, exatamente igual à última vez que o havia visto.

"Entre portador, estava esperando mesmo por você. Espero que Bruna tenha lhe atiçado a curiosidade. Nas poucas vezes que nos encontramos, pude ver que isso não é tarefa difícil." - disse Thamis, com um sorriso no rosto.

"É Thamis, estou bem curioso. E acho que poderia começar me contando sobre mendigos e vilões..."

Thamis abre um sorriso.

"Logo se vê que não estou falando com qualquer um. Escolheu bem o assunto que norteará nossa conversa. Pois bem. Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a prostituição, e eu lhe digo se isso for verdade, a segunda mais antiga é a mendicância, pois após o prazer sexual, acho que não há para o homem prazer melhor do que limpar a consciência fazendo o bem para alguém. Esse princípio norteia as religiões ocidentais desde a queda do Império Romando do Ocidente. Com a perda de poder, os romanos resolveram aderir ao cristianismo como forma de trazer paz ao império, evitando conflitos com os povos cristãos. A ascensão da Igreja Católica Apostólica Romana trouxe consigo o voto de pobreza para alcançar a paz espiritual, e trouxe também a piedade. Com isso, os outrora pobres e miseráveis, agora eram mendigos, objetos da misericórdia dos abastados."

"Interessante, mas ainda não entendo onde eu entro nessa história..."

"Calma portador, como um apaixonado por história, você tem que ter paciência... Bom, acontece que sempre houveram os bandidos no mundo, e eles aproveitaram essa nova mentalidade para se disfarçar de mendigos e assaltarem aqueles que davam esmolas. Isso seguiu sendo um incômodo para nós até a derradeira queda do império. Com o início do feudalismo, os bandidos migraram para locais que lhes dariam mais dinheiro ao invés de permanecer nos feudos, e foram embora para os burgos ou vilas. Por morarem fora dos feudos, receberam o nome de vilões, e são chamados assim até hoje. Porém, não mudaram nunca o seu disfarce de mendigos para assaltarem, o que nos prejudica! Nós mendigos precisamos das esmolas, e eles nos atrapalham."

"Entendo, mas quem são os portadores nessa história?"

"Os portadores começaram como defensores dos mendigos, matando os vilões. Eram pessoas de bem, que resolveram fazer justiça com as próprias mãos. No começo usavam floretes, armas leves que todos os cidadãos carregavam, era até um adorno. Mas aos poucos os vilões começaram a caçá-los. E também, com o passar do tempo ficou cada vez mais difícil para os portadores andarem armados. Assim, tudo parecia perdido nessa guerra secular."

"Mas vocês deram um jeito com os guarda-chuvas... Agora começo a entender..."

"Não, na verdade demos um jeito ainda quando eram floretes. Os vilões conseguiram matar alguns de nossos portadores, e então começou essa guerra. E pior, para chacinar cada vez mais portadores, eles conseguiram com uma magia de um bruxo medieval, que a cada portador dos floretes que um vilão matasse, ele absorveria parte da alma do portador, e com isso se tornaria mais poderoso. Não pudemos ficar atrás, e fizemos a mesma coisa. Daí vem o lema que você já ouviu dentro de sua cabeça: só pode haver um."

"E os guarda-chuvas entram onde nisso?" - perguntei eu, achando um tremendo plágio essa idéia de absorver almas... Onde mesmo que eu havia visto isso?

"Com a proibição das armas, tivemos que encontrar outra arma, e também, hoje em dia não daria para matar os vilões e sumir com suas almas. Por isso, começamos a vender guarda-chuvas com a mesma magia dos floretes, e assim, a cada luta que um portador vence, ele tira das ruas um vilão, e rouba parte do seu poder quando retira um retalho do guarda-chuva destruído."

"Então entrei nessa história por um mero acaso?"

"Não Neo, você é o escolhido das profecias... Aquele que trará o equilíbrio aos dois lados dessa guerra..."

"Théo, meu nome é Théo, e não Neo..." - respondi eu, sentindo cheiro de plágio maior ainda... Onde já havia visto essa história de equilíbrio, profecia... E principalmente o nome Neo?!

Nesse momento uma coisa me vem à cabeça: Thamis nunca falou português!

"Pergunta pertinente essa portador, e não precisa perguntar como eu escutei se você nem ao menos perguntou... Eu morri num combate contra o maior de todos os vilões, aquele que só você poderá vencer. Por isso posso falar qualquer língua para facilitar seu entendimento. Estou aqui em espírito para treiná-lo."

Diante da revelação sobre a profecia, do medo que surgiu por falar até agora com um espírito e do plágio cada vez mais óbvio de todos os lados dessa história, resolvi desmaiar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lenda Urbana - E agora?

Desde que venci o baiano, deixei o guarda-chuva encostado no mesmo lugar. Tive medo de andar carregando e ser reconhecido. Trabalhei e estudei por dois dias, mas não conseguia esquecer tudo o que me aconteceu na segunda-feira. Hoje, quinta feira, acordei e resolvi não ir para a faculdade e para o escritório. Eu precisava pesquisar e descobrir o que havia me tornado.

Wikipedia. Minha primeira fonte de pesquisas se mostrou de pouca ajuda. Odeio utilizá-la, tem artigos vazios, de pouca confiabilidade. Mas é útil para encontrar certos termos que ajudam em outras fontes de busca.

Google. Nada também.

Eu teria que apelar. Precisaria consultar conhecimentos obscuros. Livros esquecidos, empoeirados e amarelados.

Eu iria até a Biblioteca Municipal Mário de Andrade consultar a Enciclopédia Barsa.

Para chegar lá precisaria pegar um ônibus e metrô. Da estação Marechal Deodoro iria até a estação Anhangabaú, e de lá andando até a Biblioteca. Não sei porque, mas achei melhor levar o guarda-chuva dessa vez.

Com o remendo do guarda-chuva do baiano ele começa a me lembrar uma calça de caipira de festa junina. Mas é o meu guarda-chuva, e o tempo está nublado. Ponho uma capa plástica branca nele pra disfarçar, penduro uma alça na capa e passo ele por cima do ombro. Carteira no bolso, Bilhete Único no outro, chaves de casa no outro, celular no outro. To pronto.

Pego o ônibus por volta de 9 horas da manhã, incrivelmente ele está vazio. Normalmente a essa hora o movimento de idosos é grande.

Desço alguns metros a frente da estação Deodoro. Embaixo do Elevado Costa e Silva. Acho engraçado chamar o Minhocão de Elevado Costa e Silva, me lembra a Corrida de São Silvestre, que é o único momento do ano em que chamam o Minhocão pelo nome certo.

O Minhocão é um viaduto, e odeio passar embaixo de viadutos. São lugares degradados, sujos, e normalmente perigosos. Mas não tem jeito, preciso andar um pouco para chegar até o metrô.

Os mendigos que moram ali embaixo e normalmente me abordam (acho que tenho uma cara de bonzinho muito convincente, eles só não me pedem dinheiro quando tem alguma velhinha também), hoje me olham a distância. Olhares cheios de respeito me acompanham de longe. Acho estranho, mas prefiro assim. Não estou num dia bom para esmolas ou papos, apesar de acreditar que a solidão e desprezo pelo qual os moradores de rua passam lhes dê uma percepção do mundo muito melhor que a nossa. Alguns mendigos são sábios. 

Um dia encontrei um mendigo que falava inglês. Não sei quantos de vocês já me ouviram contar essa história, mas o conheci na Rua da Consolação, no ponto de ônibus bem em frente ao Mackenzie. Ele veio falando comigo em inglês, e logo achei que era algum golpe novo na praça, que ia ser assaltado, e me afastei.

Encontrei ele uma segunda vez no Metrô Sta. Cecília, e aí batemos um papo. Ele me disse que seu nome era Thamis. Me chamava de Sir, porque eu estava vestindo terno e carregava um guarda-chuva preto como se fosse uma bengala. Ele era de um país da América Central, e veio para o Brasil dar aulas de inglês. Mas não conseguiu, e vivia nas ruas, conseguindo poucas esmolas porque ninguém entendia seu inglês e espanhol... Só vi Thamis mais uma vez, e ele estava deitado na porta de um supermercado, enrolado num trapo velho. Eu estava dentro do ônibus, e quase desci para ajudá-lo, mas estava atrasado para a aula.

Entrei no metrô. Vagão cheio, também pudera, a Linha Vermelha é sempre lotada. Desci rápido, a Estação Anhangabaú. O percurso a pé também foi muito rápido, e em poucos minutos eu estava na Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

Perdi duas horas na biblioteca. Ao que parece não existem livros sobre uma seita de portadores de guarda-chuvas quadriculados. Comecei a achar que estava ficando louco, mas o remendo no guarda-chuva provava minha sanidade mental.

Preciso espairecer. Resolvo ir até a Torre do Banespa, a vista me relaxa, e é uma boa caminhada até lá. Ipod bombando um Strokes no ouvido. "Hard to explain". Rock me faz pensar melhor.

São 13hs. A fome aperta e ainda não cheguei. Resolvo esticar até a Sé e ir almoçar no Asia House. Comida japonesa a quilo, preciso de comida leve, pesada me dá sono, e aí nada de pensar.

Duas e meia da tarde eu estou na porta do prédio do Banespa. A torre tem 161 metros de altura. É a melhor vista de São Paulo, não por ser o prédio mais alto, mas por ser ter uma localização mais alta geograficamente falando. O local de observação é um posto circular, como um farol de praia. Cabem umas 15 pessoas.

O grupo que vai subir comigo é de estudantes de colégio. Capetas. Demônios. Mal educados e barulhentos. Odeio adolescentes mal educados, talvez por que tenha sido um adolescente atípico. 

No fundo do grupo vejo uma menina loirinha se afastar. Tem 16 ou 17 anos, e lê avidamente um livro que só tive o prazer de conhecer há pouco tempo. "A Cidade Antiga", de Fustel de Coulanges. Admiro-a pelo bom gosto literário, e pela sua diferença dos colegas de turma.

Subimos os elevadores até lá, esperamos a descida do grupo anterior do topo, e pronto. Nossa vez.

Vou direto para o local de onde posso ver a Praça da Sé inteira. Não que eu queira ver a Catedral, apesar de achá-la linda. Queria ver a fachada recém restaurada do Palácio da Justiça. Mal de estudante de direito, provavelmente.

Fico observando por algum tempo, e a algazarra dos adolescentes me dando raiva, até que começa a chover. Dou graças a deus por aquelas pestes saírem de lá. Abro o guarda-chuva e fico ainda observando por uns 10 minutos o Palácio.

Quando resolvo ir embora, vejo a menina loira do outro lado da torre. Segurando um guarda-chuva igual ao meu. Mais uma vez eu sei que só pode haver um.

"Calma portador, não precisa fechar seu guarda-chuva ainda. Estou aqui para lhe dar as boas vindas e algumas respostas. Thamis me enviou".

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lenda Urbana - Só pode haver um...

Não sei quantos dos meus leitores sabem do caminho que eu faço do escritório pra casa, então vou explicar pra deixar mais clara essa história. Eu pego o primeiro ônibus numa rua chamada Chedid Jafet, desço na Av. Brigadeiro Faria Lima próximo ao Largo da Batata e lá pego o segundo ônibus pra vir até em casa.

Hoje, quando desci do primeiro, o tempo estava meio chuvoso e abri meu guarda-chuva. Quem me conhece sabe que odeio guarda-chuvas pequenos, porque não comportam eu e a minha mochila. Meu guarda-chuva é daquele que os camelôs vendem por 10 reais na porta do metrô. Quadriculado de azul escuro e amarelo esverdeado.

Fui caminhando do ponto do ônibus em direção à ruela estreita que existe ao lado do Supermercado Futurama. A ruela hoje estava movimentada, graças a Deus. Odeio passar por ali quando está deserto. E fui caminhando, por aquele atalho até a Rua Teodoro Sampaio, onde pego o segundo ônibus.

No ponto onde a ruela se abre numa rotatória para receber uma outra ruela que passa nos fundos do Futurama, eu o vi. Parecia que esperava por mim.

Eu desviava o olhar. Ele estava do outro lado da rotatória, no caminho onde eu precisava passar para chegar ao próximo ponto de ônibus. Não sabia porque me encarava. Quando levantei os olhos entendi. O guarda-chuva dele era igual ao meu...

Dois guarda-chuvas quadriculados de azul escuro e amarelo esverdeado.

Por um momento que pareceu durar uma eternidade eu olhei em seus olhos, e sabia que ele pensava o mesmo que eu: só pode haver um.

Fechei meu guarda-chuva e deixei as gotas da garoa escorrerem pelo meu rosto e sumirem em meu paletó. Ele fez o mesmo, mas tinha a vantagem de vestir uma jaqueta de couro marrom. Estava bem surrada, mas pelo menos a água não lhe pesava. Em sua cabeça, um chapéu velho, faltando um pedaço em forma de triângulo na lateral. 

Enrolei o guarda-chuva e prendi com o velcro para que não ficasse solto, e ele fez o mesmo. Percebi com todos meus nervos que o combate estava para começar. O cheiro de batalha permeava o ar. E os pedestres que por ali passavam percebiam isso, e evitavam cruzar nossos olhares. Alguns chegaram até mesmo a parar no boteco próximo, embaixo do toldo, pedir uma coxinha e um croquete e observar os dois portadores dos guarda-chuvas quadriculados...

Eu não sabia o que acontecia comigo. Parecia que estava dominado por alguma entidade que não era eu. Tinha plena consciência disso, mas tudo o que eu queria era resolver o problema. Dessa luta, apenas um guarda-chuva sairia.

"Estive lhe esperando por uma hora meu rei. Perdeste o ônibus, foi?"

Baiano. Não pensei isso como preconceito ou xenofobia, até porque baianos em São Paulo são muito mais comuns do que cariocas, então eu era mais forasteiro do que ele nesta terra de asfalto e vidro. Poucos sabem, mas São Paulo é a cidade do Brasil que tem mais baianos depois de Salvador.

O momento de reflexão terminou com uma constatação assustadora. Ele me conhecia! Sabia o caminho que eu faria naquele dia! Eu não poderia lhe dar uma chance de sobreviver, ou ele me perseguiria pelo resto da vida...

Mais por desespero do que por me encontrar preparado, parti para cima. Nesse momento, meu Ipod que até agora estava em silêncio, começou a tocar. David Bowie e Queen - Under Pressure. Engraçado, pensei comigo. Porque não tocou "Who wants to live forever"?!

Joguei o guarda-chuva pro alto, e com um dedo, encontrei o seu cabo curvo e o trouxe firmemente para a palma da mão enquanto corria. Meu paletó esvoaçava, molhado e pesado. As gotas da chuva aumentaram, dardejando meu rosto. Ia desferir meu primeiro golpe, e não tinha a menor idéia do que isso significava...

Desci o guarda-chuva com força em direção à cabeça do baiano, mas ele era experiente nisso e aparou meu golpe. Nesse momento vi que diferente do meu, o seu guarda-chuva tinha cabo reto, em forma de empunhadura, com lugar para encaixar os dedos. Seu guarda-chuva era muito mais letal que o meu.

Sem dificuldade, após aparar o meu golpe, ele girou o corpo, e com um rápido movimento de capoeira, abaixou-se, me acertando na parte de trás do joelho.

Quase caí de joelhos, mas a outra perna foi forte o suficiente para aguentar o peso do corpo. Ele tentou um segundo golpe, mas já esperando por isso, pulei por cima do guarda chuva e rolei pelo asfalto molhado, me pondo de pé em um instante. Ao que parece os anos de RPG me ajudaram a antever os golpes do oponente. Afinal, após anos de estudos de estratégias de combate de espadas, um combate de guarda-chuvas não seria grande coisa.

Agora ele veio pra cima. Tentou o mesmo golpe que eu, de cima para baixo na direção da cabeça. Mas eu fui mais ágil. Girei o guarda-chuva e o deixei escorregar na mão, segurando-o pela ponta, enquanto deixava o cabo livre na outra extremidade. 

Com um rápido movimento, esquivei do golpe, prendi seu guarda-chuva com o cabo do meu e torci com toda a força. O guarda-chuva do baiano voou, e eu o peguei com a mão esquerda.

O rosto dele ficou amedrontado, e sua tez morena ficou pálida por um instante. Eu fui vitorioso. Levantei o seu guarda-chuva, e para o susto de todos os espectadores do bar, que agora eram muitos, um raio caiu na ponta metálica do mesmo.

Pelo terror nos olhos do baiano, percebi que aquilo era um sinal. Seu guarda-chuva o havia abandonado, e com isso sua vida não valia mais nada.

"É meu rei, a natureza é sábia. Se ela lhe escolheu, quem sou eu para discordar, não é mesmo? Só lhe imploro uma coisa meu rei, você, que é primo de Caetano e de Bethânia. Me deixe vivo! Prometo nunca mais lhe importunar! Tenho sete bacuri pra criar..."

Baixei minha cabeça. Nunca havia pensado em matar um homem, e esse talvez fosse o momento ideal. O baiano sabia onde eu pegava o ônibus, e poderia me atocaiar.

"Deixo sim baiano, mas o seu guarda-chuva é meu."

Abri meu guarda-chuva, e vi que havia um buraco. Recortei um pedaço do guarda-chuva do baiano e guardei comigo para remendar o meu.

Apoiei a ponta do guarda-chuva dele no asfalto, a água empoçada chiou com a temperatura do metal. Com todo o peso da minha perna, desferi um chute no meio do guarda-chuva, que se partiu com um estrondo inesperado. Um brilho intenso cegou a todos, e só pude escutar o grito de desespero do baiano.

Quando consegui abrir os olhos, eles estavam grudentos. Eu estava enrolado num edredon, vestindo pijama. Me sentei na beira da cama, me recusando a acreditar que tudo aquilo pudesse ter sido um sonho. Levantei e senti uma dor leve atrás do joelho, que me fez pisar em falso e tropeçar no pé da cama. Andei até o banheiro e lá encontrei aquilo que me fez ter certeza que não havia sido um sonho.

Meu guarda-chuva estava encostado na porta do banheiro. Com um buraco remendado.

Eu era o escolhido.

domingo, 5 de outubro de 2008

Amicus Pappus

Bom, tava na hora de mudar o nome do blog. "Só pra passar o tempo" era o nome provisório, além de ser um dos nomes mais comuns de blogs no mundo...

O tempo passou, e hoje isso me incomodou. Qual seria o nome ideal do blog? Montei esse blog pra ser um lugar onde eu escrevesse sobre tudo o que desse na telha. Futebol, política, economia, piada, análises sociais, e tudo com o bom humor que me é peculiar. Não só escrever o que me agrada, mas ter sempre o retorno dos amigos, que sempre são parte essencial da minha vida, estando perto ou longe. Um blog que fizesse o papel de uma conversa de bar à distância.

"Amicus Pappus". Do latim, Papo de Amigo. Quem não acreditar, pode caçar um dicionário de latim e quebrar a cara.

Pra aproveitar o momento de renovação do blog (template novo há uma semana, e agora nome novo) queria agradecer àqueles que inspiraram o novo nome e sempre participam aqui do blog: Luciano (vulgo Willow), Leonardo (Ligadim) e a ultimamente quase onipresente, Anne (apelido secreto...), que além de fazer parte dos amicus, ainda ajudou no debate mental que eu travei pra decidir o nome!

Vocês tem cadeira cativa nesse estádio que é o meu coração. Bjão pra Anne, abraços pra esses dois que às vezes eu fico na dúvida se existem ou se são produto da minha imaginação.

sábado, 4 de outubro de 2008

Nome na Taça

"Ai ai, enfrentar o Timbu nos Aflitos é foda, o Palmeiras se deu bem empatando de 0 a 0..."

Alguém aí conhece um palmeirense? Se sim, esse foi o discurso deles semana passada. Desculpa gente, mas time que tem raça, que tem tradição, que tem um manto sagrado de verdade (e não essa camisa verde-catarro-que-brilha-no-escuro) ganha em qualquer lugar. E ganha de 2 a 0, com autoridade de futuro campeão brasileiro, com direito a golaço de fora da área!

Desculpa porco, ganhar de virada em casa contra o Atlético Mineiro não é um feito extraordinário, é obrigação. Mas pra chegar no nosso nível (sim, caímos bem na tabela pq venderam todo o ataque do time em duas semanas) vocês tem que comer muito feijão com arroz.

ps.: feijão com rabo de porco!

domingo, 28 de setembro de 2008

Festas de Família

Quando eu tinha um blog onde escrevia junto com o Wilian e o Willow (Luciano, pra quem não conhece), acho que escrevi meu melhor texto crítico-filosófico de humor. Pra quem lembrar (acho que ninguém vai lembrar, isso foi há 5 anos) desse blog, foi o texto que escrevi sobre o Natal.

O Natal nunca foi uma festa que eu gostasse muito, porque depois que a gente conhece História, vê que é uma festa mentirosa, já que Jesus não nasceu nessa data, e que na verdade um papa (não me lembro qual) adotou como nascimento de Cristo para conseguir atrair para a Igreja Católica os povos pagãos, que adoravam o Sol no dia 25 de dezembro.

Mas enfim, apesar de não concordar, sempre gostei dos filmes de Natal, e encaixo nessa categora duas das melhores comédias da minha infância: "Esqueceram de Mim 1 e 2".

Bom, depois que vim morar em São Paulo comecei a gostar do Natal. Não que tenha concordado e acreditado na data, mas é que ela se tornou a única oportunidade que tenho de ver a família do meu pai reunida. E eita família de maluco! Saio da festa cansado de dar risada!

Esse ano porém, terei outra oportunidade de ver a família Bernardes reunida. Aniversário de 60 anos da tia mais comédia da família! Dá pra imaginar o que vem por aí né?

Festas de família são sempre engraçadas. Hoje eu vejo isso. Quando era moleque não. Era meio introspectivo, quietão. É que era muito observador e pouco falante. Hoje sou muito observador e falante idem...

Festas de família são aquela oportunidade de ver os primos que há muito tempo não se vê, de conversar com aqueles tios mais velhos que sempre tem alguma coisa pra ensinar, de rir com aquele tio engraçado que sempre tem uma piada nova... Pra mim são oportunidades de conversar até com meu irmão, saber como está a vida, já que 500km de distância e horários conflitantes nos atrapalham pra botar a conversa em dia.

Enfim, dia 18/10 é dia de churrasco com os amigos (pra conversar até cair um pedaço da língua, como diz a "mamy" de uma amiga que admiro muito (admiro tanto a amiga quanto a "mamy")) à tarde e festa de família à noite. Já to ansioso!