sábado, 25 de outubro de 2008

Lenda Urbana - Um pouco de história

Saímos da Torre do Banespa. A menina loira se apresentou como Bruna. Talvez pelo excelente papo e por ser xará de duas amigas que gosto muito, logo estava conversando com ela como se a conhecesse há mais tempo.

"Antes de tudo, me conta porque que nós precisamos lutar? Porque aqueles que têm os guarda-chuvas quadriculados de azul escuro e amarelo-esverdeado lutam entre si?"

"Não é bem assim Théo. Por exemplo, nós dois não precisamos lutar, estamos do mesmo lado. Nós defendemos a mesma causa. Nós defendemos os mendigos."

Não sabia o que perguntar diante dessa resposta. Mas precisava continuar o assunto.

"Defendemos os mendigos do que? Porque contra o baiano eu lutei e contra você não preciso?"

"Defendemos os mendigos dos vilões. O baiano era um que defendia os vilões. Aliás, meus parabéns. Normalmente os novos portadores são treinados antes do primeiro combate, e você venceu o seu primeiro sem nenhum treinamento, e contra um adversário digno de nota. O baiano já havia retirado de nossas fileiras alguns valorosos portadores."

A história cada vez se complicava mais, e eu torcia para entender alguma coisa.

"Quem são os vilões Bruna?! Como você entrou nessa vida? Como eu me tornei um desses portadores?!"

"Bom, não posso lhe responder isso. Thamis disse que seria complicado falar com você sobre isso, e ele preferia lhe contar a história toda. Bom, chegamos ao nosso destino."

Não havia percebido, mas a conversa com Bruna me tirou toda a atenção do itinerário. Pegamos um metrô e um ônibus. E desembarcamos diante daquele lugar que eu vejo todos os dias de dentro do ônibus quando vou para a faculdade: o Castelinho da Rua Apa.

Local de lendas urbanas paulistanas, fantasmas e cenário de um crime. Uma família riquíssima, mãe e dois filhos, no dia 12 de maio de 1937, foram encontrados mortos a tiros na casa da família: o Castelinho. Nunca encontraram os culpados, e até hoje o Castelinho está abandonado. Ou não, pelo que eu podia ver agora.

Havia movimento dentro do Castelinho, vida. Pessoas circulando lá dentro, e cartazes de peças teatrais. Provavelmente algum grupo de vanguarda, ou góticos.

"Vamos, Thamis está lhe esperando."

Entramos no Castelinho. Nunca pensei que teria coragem de fazer isso, mas eu precisava de respostas. Sei lá, não acredito em fantasmas, mas é melhor não brincar com essas coisas. 

Subimos um lance de escadas quebradas, empoeiradas e chegamos a um quarto. No centro do quarto, logo reconheci a figura. Um mulato alto, magro, de cabelo black power amassado de um lado, limpo, vestido com roupas velhas, sentava-se como que meditando sobre um tapete persa imundo. Era ele, Thamis, exatamente igual à última vez que o havia visto.

"Entre portador, estava esperando mesmo por você. Espero que Bruna tenha lhe atiçado a curiosidade. Nas poucas vezes que nos encontramos, pude ver que isso não é tarefa difícil." - disse Thamis, com um sorriso no rosto.

"É Thamis, estou bem curioso. E acho que poderia começar me contando sobre mendigos e vilões..."

Thamis abre um sorriso.

"Logo se vê que não estou falando com qualquer um. Escolheu bem o assunto que norteará nossa conversa. Pois bem. Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a prostituição, e eu lhe digo se isso for verdade, a segunda mais antiga é a mendicância, pois após o prazer sexual, acho que não há para o homem prazer melhor do que limpar a consciência fazendo o bem para alguém. Esse princípio norteia as religiões ocidentais desde a queda do Império Romando do Ocidente. Com a perda de poder, os romanos resolveram aderir ao cristianismo como forma de trazer paz ao império, evitando conflitos com os povos cristãos. A ascensão da Igreja Católica Apostólica Romana trouxe consigo o voto de pobreza para alcançar a paz espiritual, e trouxe também a piedade. Com isso, os outrora pobres e miseráveis, agora eram mendigos, objetos da misericórdia dos abastados."

"Interessante, mas ainda não entendo onde eu entro nessa história..."

"Calma portador, como um apaixonado por história, você tem que ter paciência... Bom, acontece que sempre houveram os bandidos no mundo, e eles aproveitaram essa nova mentalidade para se disfarçar de mendigos e assaltarem aqueles que davam esmolas. Isso seguiu sendo um incômodo para nós até a derradeira queda do império. Com o início do feudalismo, os bandidos migraram para locais que lhes dariam mais dinheiro ao invés de permanecer nos feudos, e foram embora para os burgos ou vilas. Por morarem fora dos feudos, receberam o nome de vilões, e são chamados assim até hoje. Porém, não mudaram nunca o seu disfarce de mendigos para assaltarem, o que nos prejudica! Nós mendigos precisamos das esmolas, e eles nos atrapalham."

"Entendo, mas quem são os portadores nessa história?"

"Os portadores começaram como defensores dos mendigos, matando os vilões. Eram pessoas de bem, que resolveram fazer justiça com as próprias mãos. No começo usavam floretes, armas leves que todos os cidadãos carregavam, era até um adorno. Mas aos poucos os vilões começaram a caçá-los. E também, com o passar do tempo ficou cada vez mais difícil para os portadores andarem armados. Assim, tudo parecia perdido nessa guerra secular."

"Mas vocês deram um jeito com os guarda-chuvas... Agora começo a entender..."

"Não, na verdade demos um jeito ainda quando eram floretes. Os vilões conseguiram matar alguns de nossos portadores, e então começou essa guerra. E pior, para chacinar cada vez mais portadores, eles conseguiram com uma magia de um bruxo medieval, que a cada portador dos floretes que um vilão matasse, ele absorveria parte da alma do portador, e com isso se tornaria mais poderoso. Não pudemos ficar atrás, e fizemos a mesma coisa. Daí vem o lema que você já ouviu dentro de sua cabeça: só pode haver um."

"E os guarda-chuvas entram onde nisso?" - perguntei eu, achando um tremendo plágio essa idéia de absorver almas... Onde mesmo que eu havia visto isso?

"Com a proibição das armas, tivemos que encontrar outra arma, e também, hoje em dia não daria para matar os vilões e sumir com suas almas. Por isso, começamos a vender guarda-chuvas com a mesma magia dos floretes, e assim, a cada luta que um portador vence, ele tira das ruas um vilão, e rouba parte do seu poder quando retira um retalho do guarda-chuva destruído."

"Então entrei nessa história por um mero acaso?"

"Não Neo, você é o escolhido das profecias... Aquele que trará o equilíbrio aos dois lados dessa guerra..."

"Théo, meu nome é Théo, e não Neo..." - respondi eu, sentindo cheiro de plágio maior ainda... Onde já havia visto essa história de equilíbrio, profecia... E principalmente o nome Neo?!

Nesse momento uma coisa me vem à cabeça: Thamis nunca falou português!

"Pergunta pertinente essa portador, e não precisa perguntar como eu escutei se você nem ao menos perguntou... Eu morri num combate contra o maior de todos os vilões, aquele que só você poderá vencer. Por isso posso falar qualquer língua para facilitar seu entendimento. Estou aqui em espírito para treiná-lo."

Diante da revelação sobre a profecia, do medo que surgiu por falar até agora com um espírito e do plágio cada vez mais óbvio de todos os lados dessa história, resolvi desmaiar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lenda Urbana - E agora?

Desde que venci o baiano, deixei o guarda-chuva encostado no mesmo lugar. Tive medo de andar carregando e ser reconhecido. Trabalhei e estudei por dois dias, mas não conseguia esquecer tudo o que me aconteceu na segunda-feira. Hoje, quinta feira, acordei e resolvi não ir para a faculdade e para o escritório. Eu precisava pesquisar e descobrir o que havia me tornado.

Wikipedia. Minha primeira fonte de pesquisas se mostrou de pouca ajuda. Odeio utilizá-la, tem artigos vazios, de pouca confiabilidade. Mas é útil para encontrar certos termos que ajudam em outras fontes de busca.

Google. Nada também.

Eu teria que apelar. Precisaria consultar conhecimentos obscuros. Livros esquecidos, empoeirados e amarelados.

Eu iria até a Biblioteca Municipal Mário de Andrade consultar a Enciclopédia Barsa.

Para chegar lá precisaria pegar um ônibus e metrô. Da estação Marechal Deodoro iria até a estação Anhangabaú, e de lá andando até a Biblioteca. Não sei porque, mas achei melhor levar o guarda-chuva dessa vez.

Com o remendo do guarda-chuva do baiano ele começa a me lembrar uma calça de caipira de festa junina. Mas é o meu guarda-chuva, e o tempo está nublado. Ponho uma capa plástica branca nele pra disfarçar, penduro uma alça na capa e passo ele por cima do ombro. Carteira no bolso, Bilhete Único no outro, chaves de casa no outro, celular no outro. To pronto.

Pego o ônibus por volta de 9 horas da manhã, incrivelmente ele está vazio. Normalmente a essa hora o movimento de idosos é grande.

Desço alguns metros a frente da estação Deodoro. Embaixo do Elevado Costa e Silva. Acho engraçado chamar o Minhocão de Elevado Costa e Silva, me lembra a Corrida de São Silvestre, que é o único momento do ano em que chamam o Minhocão pelo nome certo.

O Minhocão é um viaduto, e odeio passar embaixo de viadutos. São lugares degradados, sujos, e normalmente perigosos. Mas não tem jeito, preciso andar um pouco para chegar até o metrô.

Os mendigos que moram ali embaixo e normalmente me abordam (acho que tenho uma cara de bonzinho muito convincente, eles só não me pedem dinheiro quando tem alguma velhinha também), hoje me olham a distância. Olhares cheios de respeito me acompanham de longe. Acho estranho, mas prefiro assim. Não estou num dia bom para esmolas ou papos, apesar de acreditar que a solidão e desprezo pelo qual os moradores de rua passam lhes dê uma percepção do mundo muito melhor que a nossa. Alguns mendigos são sábios. 

Um dia encontrei um mendigo que falava inglês. Não sei quantos de vocês já me ouviram contar essa história, mas o conheci na Rua da Consolação, no ponto de ônibus bem em frente ao Mackenzie. Ele veio falando comigo em inglês, e logo achei que era algum golpe novo na praça, que ia ser assaltado, e me afastei.

Encontrei ele uma segunda vez no Metrô Sta. Cecília, e aí batemos um papo. Ele me disse que seu nome era Thamis. Me chamava de Sir, porque eu estava vestindo terno e carregava um guarda-chuva preto como se fosse uma bengala. Ele era de um país da América Central, e veio para o Brasil dar aulas de inglês. Mas não conseguiu, e vivia nas ruas, conseguindo poucas esmolas porque ninguém entendia seu inglês e espanhol... Só vi Thamis mais uma vez, e ele estava deitado na porta de um supermercado, enrolado num trapo velho. Eu estava dentro do ônibus, e quase desci para ajudá-lo, mas estava atrasado para a aula.

Entrei no metrô. Vagão cheio, também pudera, a Linha Vermelha é sempre lotada. Desci rápido, a Estação Anhangabaú. O percurso a pé também foi muito rápido, e em poucos minutos eu estava na Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

Perdi duas horas na biblioteca. Ao que parece não existem livros sobre uma seita de portadores de guarda-chuvas quadriculados. Comecei a achar que estava ficando louco, mas o remendo no guarda-chuva provava minha sanidade mental.

Preciso espairecer. Resolvo ir até a Torre do Banespa, a vista me relaxa, e é uma boa caminhada até lá. Ipod bombando um Strokes no ouvido. "Hard to explain". Rock me faz pensar melhor.

São 13hs. A fome aperta e ainda não cheguei. Resolvo esticar até a Sé e ir almoçar no Asia House. Comida japonesa a quilo, preciso de comida leve, pesada me dá sono, e aí nada de pensar.

Duas e meia da tarde eu estou na porta do prédio do Banespa. A torre tem 161 metros de altura. É a melhor vista de São Paulo, não por ser o prédio mais alto, mas por ser ter uma localização mais alta geograficamente falando. O local de observação é um posto circular, como um farol de praia. Cabem umas 15 pessoas.

O grupo que vai subir comigo é de estudantes de colégio. Capetas. Demônios. Mal educados e barulhentos. Odeio adolescentes mal educados, talvez por que tenha sido um adolescente atípico. 

No fundo do grupo vejo uma menina loirinha se afastar. Tem 16 ou 17 anos, e lê avidamente um livro que só tive o prazer de conhecer há pouco tempo. "A Cidade Antiga", de Fustel de Coulanges. Admiro-a pelo bom gosto literário, e pela sua diferença dos colegas de turma.

Subimos os elevadores até lá, esperamos a descida do grupo anterior do topo, e pronto. Nossa vez.

Vou direto para o local de onde posso ver a Praça da Sé inteira. Não que eu queira ver a Catedral, apesar de achá-la linda. Queria ver a fachada recém restaurada do Palácio da Justiça. Mal de estudante de direito, provavelmente.

Fico observando por algum tempo, e a algazarra dos adolescentes me dando raiva, até que começa a chover. Dou graças a deus por aquelas pestes saírem de lá. Abro o guarda-chuva e fico ainda observando por uns 10 minutos o Palácio.

Quando resolvo ir embora, vejo a menina loira do outro lado da torre. Segurando um guarda-chuva igual ao meu. Mais uma vez eu sei que só pode haver um.

"Calma portador, não precisa fechar seu guarda-chuva ainda. Estou aqui para lhe dar as boas vindas e algumas respostas. Thamis me enviou".

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lenda Urbana - Só pode haver um...

Não sei quantos dos meus leitores sabem do caminho que eu faço do escritório pra casa, então vou explicar pra deixar mais clara essa história. Eu pego o primeiro ônibus numa rua chamada Chedid Jafet, desço na Av. Brigadeiro Faria Lima próximo ao Largo da Batata e lá pego o segundo ônibus pra vir até em casa.

Hoje, quando desci do primeiro, o tempo estava meio chuvoso e abri meu guarda-chuva. Quem me conhece sabe que odeio guarda-chuvas pequenos, porque não comportam eu e a minha mochila. Meu guarda-chuva é daquele que os camelôs vendem por 10 reais na porta do metrô. Quadriculado de azul escuro e amarelo esverdeado.

Fui caminhando do ponto do ônibus em direção à ruela estreita que existe ao lado do Supermercado Futurama. A ruela hoje estava movimentada, graças a Deus. Odeio passar por ali quando está deserto. E fui caminhando, por aquele atalho até a Rua Teodoro Sampaio, onde pego o segundo ônibus.

No ponto onde a ruela se abre numa rotatória para receber uma outra ruela que passa nos fundos do Futurama, eu o vi. Parecia que esperava por mim.

Eu desviava o olhar. Ele estava do outro lado da rotatória, no caminho onde eu precisava passar para chegar ao próximo ponto de ônibus. Não sabia porque me encarava. Quando levantei os olhos entendi. O guarda-chuva dele era igual ao meu...

Dois guarda-chuvas quadriculados de azul escuro e amarelo esverdeado.

Por um momento que pareceu durar uma eternidade eu olhei em seus olhos, e sabia que ele pensava o mesmo que eu: só pode haver um.

Fechei meu guarda-chuva e deixei as gotas da garoa escorrerem pelo meu rosto e sumirem em meu paletó. Ele fez o mesmo, mas tinha a vantagem de vestir uma jaqueta de couro marrom. Estava bem surrada, mas pelo menos a água não lhe pesava. Em sua cabeça, um chapéu velho, faltando um pedaço em forma de triângulo na lateral. 

Enrolei o guarda-chuva e prendi com o velcro para que não ficasse solto, e ele fez o mesmo. Percebi com todos meus nervos que o combate estava para começar. O cheiro de batalha permeava o ar. E os pedestres que por ali passavam percebiam isso, e evitavam cruzar nossos olhares. Alguns chegaram até mesmo a parar no boteco próximo, embaixo do toldo, pedir uma coxinha e um croquete e observar os dois portadores dos guarda-chuvas quadriculados...

Eu não sabia o que acontecia comigo. Parecia que estava dominado por alguma entidade que não era eu. Tinha plena consciência disso, mas tudo o que eu queria era resolver o problema. Dessa luta, apenas um guarda-chuva sairia.

"Estive lhe esperando por uma hora meu rei. Perdeste o ônibus, foi?"

Baiano. Não pensei isso como preconceito ou xenofobia, até porque baianos em São Paulo são muito mais comuns do que cariocas, então eu era mais forasteiro do que ele nesta terra de asfalto e vidro. Poucos sabem, mas São Paulo é a cidade do Brasil que tem mais baianos depois de Salvador.

O momento de reflexão terminou com uma constatação assustadora. Ele me conhecia! Sabia o caminho que eu faria naquele dia! Eu não poderia lhe dar uma chance de sobreviver, ou ele me perseguiria pelo resto da vida...

Mais por desespero do que por me encontrar preparado, parti para cima. Nesse momento, meu Ipod que até agora estava em silêncio, começou a tocar. David Bowie e Queen - Under Pressure. Engraçado, pensei comigo. Porque não tocou "Who wants to live forever"?!

Joguei o guarda-chuva pro alto, e com um dedo, encontrei o seu cabo curvo e o trouxe firmemente para a palma da mão enquanto corria. Meu paletó esvoaçava, molhado e pesado. As gotas da chuva aumentaram, dardejando meu rosto. Ia desferir meu primeiro golpe, e não tinha a menor idéia do que isso significava...

Desci o guarda-chuva com força em direção à cabeça do baiano, mas ele era experiente nisso e aparou meu golpe. Nesse momento vi que diferente do meu, o seu guarda-chuva tinha cabo reto, em forma de empunhadura, com lugar para encaixar os dedos. Seu guarda-chuva era muito mais letal que o meu.

Sem dificuldade, após aparar o meu golpe, ele girou o corpo, e com um rápido movimento de capoeira, abaixou-se, me acertando na parte de trás do joelho.

Quase caí de joelhos, mas a outra perna foi forte o suficiente para aguentar o peso do corpo. Ele tentou um segundo golpe, mas já esperando por isso, pulei por cima do guarda chuva e rolei pelo asfalto molhado, me pondo de pé em um instante. Ao que parece os anos de RPG me ajudaram a antever os golpes do oponente. Afinal, após anos de estudos de estratégias de combate de espadas, um combate de guarda-chuvas não seria grande coisa.

Agora ele veio pra cima. Tentou o mesmo golpe que eu, de cima para baixo na direção da cabeça. Mas eu fui mais ágil. Girei o guarda-chuva e o deixei escorregar na mão, segurando-o pela ponta, enquanto deixava o cabo livre na outra extremidade. 

Com um rápido movimento, esquivei do golpe, prendi seu guarda-chuva com o cabo do meu e torci com toda a força. O guarda-chuva do baiano voou, e eu o peguei com a mão esquerda.

O rosto dele ficou amedrontado, e sua tez morena ficou pálida por um instante. Eu fui vitorioso. Levantei o seu guarda-chuva, e para o susto de todos os espectadores do bar, que agora eram muitos, um raio caiu na ponta metálica do mesmo.

Pelo terror nos olhos do baiano, percebi que aquilo era um sinal. Seu guarda-chuva o havia abandonado, e com isso sua vida não valia mais nada.

"É meu rei, a natureza é sábia. Se ela lhe escolheu, quem sou eu para discordar, não é mesmo? Só lhe imploro uma coisa meu rei, você, que é primo de Caetano e de Bethânia. Me deixe vivo! Prometo nunca mais lhe importunar! Tenho sete bacuri pra criar..."

Baixei minha cabeça. Nunca havia pensado em matar um homem, e esse talvez fosse o momento ideal. O baiano sabia onde eu pegava o ônibus, e poderia me atocaiar.

"Deixo sim baiano, mas o seu guarda-chuva é meu."

Abri meu guarda-chuva, e vi que havia um buraco. Recortei um pedaço do guarda-chuva do baiano e guardei comigo para remendar o meu.

Apoiei a ponta do guarda-chuva dele no asfalto, a água empoçada chiou com a temperatura do metal. Com todo o peso da minha perna, desferi um chute no meio do guarda-chuva, que se partiu com um estrondo inesperado. Um brilho intenso cegou a todos, e só pude escutar o grito de desespero do baiano.

Quando consegui abrir os olhos, eles estavam grudentos. Eu estava enrolado num edredon, vestindo pijama. Me sentei na beira da cama, me recusando a acreditar que tudo aquilo pudesse ter sido um sonho. Levantei e senti uma dor leve atrás do joelho, que me fez pisar em falso e tropeçar no pé da cama. Andei até o banheiro e lá encontrei aquilo que me fez ter certeza que não havia sido um sonho.

Meu guarda-chuva estava encostado na porta do banheiro. Com um buraco remendado.

Eu era o escolhido.

domingo, 5 de outubro de 2008

Amicus Pappus

Bom, tava na hora de mudar o nome do blog. "Só pra passar o tempo" era o nome provisório, além de ser um dos nomes mais comuns de blogs no mundo...

O tempo passou, e hoje isso me incomodou. Qual seria o nome ideal do blog? Montei esse blog pra ser um lugar onde eu escrevesse sobre tudo o que desse na telha. Futebol, política, economia, piada, análises sociais, e tudo com o bom humor que me é peculiar. Não só escrever o que me agrada, mas ter sempre o retorno dos amigos, que sempre são parte essencial da minha vida, estando perto ou longe. Um blog que fizesse o papel de uma conversa de bar à distância.

"Amicus Pappus". Do latim, Papo de Amigo. Quem não acreditar, pode caçar um dicionário de latim e quebrar a cara.

Pra aproveitar o momento de renovação do blog (template novo há uma semana, e agora nome novo) queria agradecer àqueles que inspiraram o novo nome e sempre participam aqui do blog: Luciano (vulgo Willow), Leonardo (Ligadim) e a ultimamente quase onipresente, Anne (apelido secreto...), que além de fazer parte dos amicus, ainda ajudou no debate mental que eu travei pra decidir o nome!

Vocês tem cadeira cativa nesse estádio que é o meu coração. Bjão pra Anne, abraços pra esses dois que às vezes eu fico na dúvida se existem ou se são produto da minha imaginação.

sábado, 4 de outubro de 2008

Nome na Taça

"Ai ai, enfrentar o Timbu nos Aflitos é foda, o Palmeiras se deu bem empatando de 0 a 0..."

Alguém aí conhece um palmeirense? Se sim, esse foi o discurso deles semana passada. Desculpa gente, mas time que tem raça, que tem tradição, que tem um manto sagrado de verdade (e não essa camisa verde-catarro-que-brilha-no-escuro) ganha em qualquer lugar. E ganha de 2 a 0, com autoridade de futuro campeão brasileiro, com direito a golaço de fora da área!

Desculpa porco, ganhar de virada em casa contra o Atlético Mineiro não é um feito extraordinário, é obrigação. Mas pra chegar no nosso nível (sim, caímos bem na tabela pq venderam todo o ataque do time em duas semanas) vocês tem que comer muito feijão com arroz.

ps.: feijão com rabo de porco!